Em entrevista a imprensa paraibana o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e cientista político, Lúcio Flávio, os eleitores este ano ficarão reféns do sistema político que trabalha para manter as atuais bancadas na Câmara dos Deputados, no Senado e nas Assembleias Legislativas. Segundo ele a situação pode colocar os eleitores como refém do atual sistema político.

Para ele, isso levará a ampliar o distanciamento entre a população e os seus representantes. “A maioria dos partidos é controlada pelos “caciques”. Isto é, aqueles que detém mandatos. Com o controle da máquina partidária e dos recursos, aqueles dirigentes que têm mandatos serão os beneficiados diretos das verbas”, destacou.

De acordo com o cientista político, a decisão das executivas em priorizarem os atuais parlamentares causará um processo de “oligarquização” das estruturas partidárias. “Por essas razões, não acredito que haverá uma profunda renovação no quadro político. Ficará na média histórica entre 45% a 50%”, afirmou.

Sabe a expressão de que a água só corre para o mar? É mais ou menos isso que os partidos pretendem para as eleições deste ano. Me explico melhor: os caciques políticos são os maiores beneficiados com o dinheiro do fundo eleitoral, a bolada de R$ 1,7 bilhão destinada ao financiamento das campanhas. Pelo menos 12 dos 35 partidos enviaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os critérios para a divisão dos recursos. Nenhum deles prevê equilíbrio entre os repasses. Então, quem tem mandato recebe mais recursos, assim como os nomes considerados apostas dos partidos. Os dados foram revelados em reportagem da Folha de São Paulo.

Encaminharam a descrição dos critérios ao TSE partidos como PSDB, DEM, PSB, PSD, PP, PR, PRB, PSOL, PPS, PMN, PRTB e Patriota. Seis deles, contudo, poderão ter de sanar problemas, como assinaturas sem firma reconhecida e dados incompletos. Apesar do desnivelamento nos critérios de distribuição, não há punição prevista para as siglas neste caso. A única exigência feita pela Justiça Eleitoral é que sejam destinados 30% da cota de gênero. Ou seja, as mulheres, geralmente minoria entre os postulantes, terão que ter destinados uma cota mínima de recursos. Mesmo assim, ainda há distorções. A direção nacional do PP definiu que, para atingir os 30% exigidos, os homens abrirão mão de uma parte que seria deles.

PRESIDENTES – As eleições deste ano têm reprisado uma prática comum a todas as eleições anteriores: a briga dos pré-candidatos por alianças. É assim no contexto nacional, é também no local. Todo mundo confunde apoiamentos com vitória certa. Essa visão simplista, no entanto, é um perigo para os projetos eleitorais. É difícil dizer se há vantagem em agregar os partidos que dão sustentação a um governo impopular. Geraldo Alckmin, por exemplo, tem no seu palanque todos os partidos que apoiam o presidente Michel Temer (MDB). O emedebista é o presidente mais impopular da história recente do Brasil. Talvez o mais impopular de toda a história. A imagem dele foi desgastada pelos escândalos de corrupção no governo. É um passivo grande demais para os tucanos carregarem. Até por que há incentivos para que ele receba também o apoio emedebista. Com isso, seria retirada a pré-candidatura do ex-ministro Henrique Meireles.

Exemplo do passado

Um exemplo do passado mostra que ter tempo de TV, mas representar governo impopular é uma bomba. Em 1989, numa eleição muito associada à atual, os candidatos dos dois maiores partidos brasileiros naufragaram. A primeira eleição direta para presidente após o golpe de Estado de 1964, que derrubou João Goulart, acabou punindo os candidatos dos dois maiores partidos, PMDB (MDB) e PFL (DEM). Donos das maiores bancadas no Congresso Nacional (mais de 350 parlamentares), o desempenho dos seus candidatos, Ulysses Guimarães e Aureliano Chaves, respectivamente, acabou se revelando pífio. Ulysses saiu das urnas com 4% dos votos.

Em 1989, o Michel Temer da vez era José Sarney, também do MDB. Ter o nome atrelado a ele foi fatal para os candidatos governistas. No final das contas, saíram das urnas para o segundo turno o candidato de um partido nanico (PRN), Fernando Collor de Mello, e um ex-operário, Lula (PT). Ambos chegaram ao segundo turno com a propaganda de combate à corrupção. Collor venceu e foi vítima de um impeachment por causa dos crimes que ele prometeu combater. Lula cumpriu o mandato conquistado três eleições depois, mas também foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Por conta do peso governista, Alckmin tenta se desvincular de Temer. Missão difícil. Os adversários vão partir para a acusação de atrelamento. Na Paraíba, João Azevedo e Lucélio Cartaxo não têm de quem reclamar. Eles dividem o centrão. Mesmo assim, é bom eles ficarem atentos…

Os debates eleitorais têm vindo carregados de discussões sobre ideologia. A discussão, porém, não tem efeito prático quando sai do campo das idéias para a política como ela é. Basta considerar a quebra da linha ideológica que daria coerência a candidaturas nacionais e locais. A Paraíba é uma prova de que os arranjos locais transformaram a noção de direita e esquerda apenas no lado para onde o motorista vai ligar a seta do carro. Os candidatos ao governo, no estado, atendendo interesses paroquiais possuem aliados de partidos que são suporte a presidenciáveis dos mais diversos espectros ideológicos.

O candidato a governador pelo PSB, João Azevêdo, tem 14 partidos na sua base de apoio. Deles há o apoio a quatro candidaturas à Presidência da República. A chapa socialista tem ainda o apoio do PDT de Ciro Gomes. Até aí, todos estariam no desejado espectro de esquerda. Estariam não fosse a presença, na coligação, do Podemos de Álvaro Dias.

Achou estranho? Ainda tem a situação de Marina Silva (Rede). O partido dela fechou aliança com o PV de Lucélio Cartaxo nacionalmente, mas não na Paraíba. Por aqui, a sigla está na base de apoio de João Azevêdo. Com Lucélio, de um partido de esquerda, estão as agremiações que dão sustentação a uma figura de esquerda como João Goulart (PPL) a representantes de centro à direita como Geraldo Alckmin (PSDB), José Maria Eymael (DC) e ainda de extrema direita, no caso específico de Jair Bolsonaro (PSL). Uma confusão e tanto para ser administrada pelos eleitores.

A coerência ideológica não é garantida nem no MDB de José Maranhão, que conseguiu formar uma base de apoio pequena. O candidato ao governo conseguiu se alinhar apenas com PR e Patriotas. Só o segundo tem candidato a presidente. Trata-se do pouco conhecido Cabo Daciolo, de extrema direita. O nome do MDB para a disputa presidencial é o do banqueiro Henrique Meirelles. Já o Psol, de Tárcio Teixeira, que tem como candidato a presidente Guilherme Boulos. Tárcio tem ainda o PCB na base. O PSTU de Rama Dantas tem Verá Lúcia como candidata a Presidência da República.

Lucélio vale destacar tem seu palanque frequentado por mais de um candidato à Presidência da República durante a campanha. De acordo com reportagem publicada nesta pela Folha de São Paulo, Cartaxo confirmou a divisão de palanque.

Em razão das alianças firmadas pelo PV para concorrer às eleições de 2018, com PSDB, Rede e PSL, o palanque triplo chega à Paraíba.

Cartaxo apoia o nome de Marina Silva para o Planalto, que tem Eduardo Jorge (PV) como candidato a vice-presidente. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB), companheiro de chapa de Cartaxo e candidato à reeleição, deve garantir o palanque para Geraldo Alckmin (PSDB).

Jornal da Paraíba

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Last Update: 14 de setembro de 2018