Pensando em proteger cães e gatos do frio, do sol e da fome, algumas famílias de Campina Grande criaram ferramentas para minimizar o sofrimento de animais de rua como, por exemplo, casas de alvenaria na calçada de casa e porta alimentos. O objetivo, segundo elas, é conseguir cuidar do maior número de animais possível.

Esse suporte se torna mais necessário no período de baixas temperaturas no estado, de maio a julho. Alguns protetores, mesmo sabendo que não conseguem acolher uma grande quantidade de animais em casa, desenvolvem ferramentas para que, mesmo de longe, possam levar alívio para cães e gatos em situação de vulnerabilidade.

Entre essas famílias está a da protetora de animais Marisete Sousa, de 58 anos, que atualmente cuida de 18 cachorros. Ela conta que já entendeu que não é possível abrigar todos os bichos em situação de rua na casa dela, mas que tem como proporcionar o bem-estar dos que precisam de assistência.

Marisete e o marido, Lucas Martins, também de 58 anos, construíram um abrigo de alvenaria na calçada de casa que decidiram chamar carinhosamente de “cãodomínio”, a fim de criar um espaço onde os animais pudessem ficar sem precisarem se preocupar com as mudanças climáticas. Cuidar dos animais em situação de rua é, para ela, muito gratificante.

“A todo momento recebemos o retorno deles. Eles têm uma maneira especial de agradecer a gente”, afirma.

“Nós não temos como abrigar todos os animais em casa e [criar um abrigo na calçada] foi uma forma que encontramos de amenizar o sofrimento deles”, diz. A protetora comenta ainda que é grata por contar com a ajuda do marido na luta pelo bem-estar animal, “sem ele eu não teria como cuidar de tantos animais”, finaliza.

Pensando também em diminuir a fome dos animais em situação de rua, a protetora Angélica Catarine, de 27 anos, montou na frente da casa dela um “comedouro”. A estrutura foi construída com dois canos de PVC, um com ração e outro com água, para que cães e gatos possam se alimentar ao passar pela rua. Angélica diz que é maravilhoso poder repor todos os dias o alimento dos animais. Para ela não há dificuldade, é mais gratificante do que cansativo.

“Eu entendo que todos podem ajudar de alguma forma, seja apadrinhando um animal, ajudando alguma ONG, doando ração para protetores independentes que estão super lotados de animais, mas que não recebem a ajuda de ninguém, ou até mesmo em divulgar quando tem algum animal perdido. Eu vejo que muita gente sente pena quando vê um animal de rua, mas a sua pena não vai mudar a vida daquele animal que já sofre fome e frio nas ruas”, salienta Angélica.

“Comedouro”: a estrutura foi construída com dois canos de PVC, um com ração e outro com água, para que cães e gatos possam se alimentar ao passar pela rua. — Foto: Arquivo Pessoal

Conforme a Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa), as chuvas tendem a aumentar no Estado em dois períodos do ano: de fevereiro a maio, nas regiões do Alto Sertão, Sertão, Cariri e Curimataú e de abril a julho no Agreste, Brejo e Litoral. Nestes períodos de baixa temperatura, os animais que estão em situação de vulnerabilidade ficam em lugares molhados por falta de abrigo e esses fatores podem ser determinantes para a aparição de doenças. Em Campina Grande, especificamente, o tempo mais frio do ano é de maio a julho.

Muitos desses animais em situação de vulnerabilidade já nasceram em situação de rua, outros foram deixados por seus ex-tutores e encontraram acolhimento em um espaço voltado para a sua proteção. Porém, nem todos os animais que são abandonados, ou que nasceram em situação de vulnerabilidade, conseguem encontrar um lar provisório ou um abrigo para se protegerem de mudanças climáticas, por exemplo.

“Além da umidade ser um forte transmissor doenças virais aos pets, a baixa temperatura pode influenciar na baixa do sistema imunológico e, consequentemente, acarretar em doenças do trato respiratório como, por exemplo, as popularmente conhecidas ‘gripe dos canis’ ou a ‘rinotraqueíte felina’”, explica o médico veterinário Mateus Moraes.

Além do período frio nessa época do ano na cidade, a situação dos animais é ainda mais preocupante durante a pandemia. Segundo o Centro de Controle de Zoonoses de Campina Grande, houve uma crescente no número de abandono de cães e gatos desde o início da disseminação da Covid-19 no município e, por consequência, um número menor de adoções.

De janeiro a junho de 2019, antes da pandemia, havia em Campina Grande 1.141 animais resgatados em situação de rua, para 418 adoções, de acordo com os dados da coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses do município, Aretusa Nascimento. Ao analisar o mesmo período em 2021, durante a pandemia, apenas 358 adoções foram registradas de um total de 1.255 animais resgatados.

Animais domésticos também podem sofrer com o frio

O sofrimento que os animais passam por causa das baixas temperaturas associadas com as chuvas não é uma exclusividade para os cães e gatos que vivem em situação de rua. Os pets que estão em um ambiente doméstico também passam por problemas semelhantes aos que não têm abrigo, como destaca o médico veterinário Mateus: “as baixas temperaturas podem afetar diretamente no sistema imunológico, consequentemente se os pets, mesmo que dentro de suas casas, fiquem expostos às chuvas, ao frio e ambientes úmidos os animais estarão suscetíveis a contrair doenças”.

O veterinário ainda fala sobre como é importante abrigar os animais dentro de casa, ou em ambientes secos, porque, mesmo estando longe das ruas, alguns animais vivem amarrados em lugares onde ficam expostos às mudanças climáticas. “Infelizmente já não são felizes em não terem uma vida saudável, não possuem nutrição adequada, protocolos vacinais, cuidados médicos. Tudo isso já é muito triste e difícil de lidar”, enfatiza. “O pouco que pudermos ajudar com abrigo nestes tempos chuvosos, com certeza, já será de muita ajuda aos animais”, complementa Mateus.

Abandono de animais é crime no Brasil

O abandono é uma forma de maus-tratos, crime que está tipificado, no Brasil, segundo a nova Lei Federal nº 14.064/20, que altera a Lei nº 9.605/1998 e aumentando a pena de detenção para até cinco anos para crimes de maus-tratos a cães e gatos.

Informações com G1 Paraíba

 

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Last Update: 29 de julho de 2021

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