Uma das mais impactantes guinadas no cenário político paraibano nos períodos históricos deu-se em 1982, quando estavam restauradas as eleições diretas de governadores. O então deputado federal Marcondes Gadelha, combativo expoente do grupo “autêntico” do MDB, que lutara contra a ditadura militar, surpreendeu a todos ingressando no PDS, partido de sustentação do regime, sucedâneo da Arena, com o aval público do general João Baptista Figueiredo, presidente da República. Marcondes logrou ser eleito, derrotando o principal adversário, o ex-governador Pedro Moreno Gondim, que concorreu pelo já PMDB. Beneficiou-se, entre outros fatores, do voto vinculado, em vigor na época e tratado como “casuísmo” pela oposição, por obrigar o eleitor a votar de forma linear em candidatos a diferentes postos de um mesmo partido.

O PDS foi sucedâneo da Arena, partido que nasceu para dar cobertura ao regime militar instaurado de 64, e um dos expoentes da Arena na Paraíba, embora participando de um denominado grupo renovador, era Antônio Mariz, que combatia os Gadelha em Sousa, apontando o pai de Marcondes, industrial José de Paiva Gadelha, como latifundiário insensível e suposto explorador de trabalhadores de usinas que ele controlava. A política local foi determinante para a guinada ocorrida, já que Mariz, livre dos grilhões do bipartidarismo, ingressou no PP, comandado a nível nacional por Tancredo Neves e Magalhães Pinto, que acabou se incorporando ao PMDB para a disputa eleitoral de 82. Gadelha sentiu-se praticamente expulso do PMDB-MDB e procurou sobreviver em outros partidos, inclusive o recém-nascido PT, neste sendo vetado com o argumento de que nunca usara um macacão de operário. “Passei vinte anos combatendo Antônio Mariz e seria insuportável subir no palanque e passar a elogiá-lo”, contou Gadelha a Ana Beatriz Nader, autora do livro sobre os Autênticos do MDB. Mariz foi candidato do PMDB ao governo em 82. No PDS, Marcondes formou dobradinha com Wilson Braga, que se elegeu governador com 151 mil votos de diferença sobre Mariz.

– Minha entrada no PDS foi um verdadeiro corredor polonês, porque comecei a levar paulada dos dois lados: dos meus companheiros amigos do MDB e dos novos companheiros do PDS, que, por seu turno, também lançou outros candidatos na sublegenda que me atacaram como se eu fosse um cristão novo. Comecei a levar borrachada dos dois lados, ou melhor, dos três lados…O PT também participou – relatou Marcondes. Ele diz que foi conversar com o presidente Figueiredo a chamado deste, que tomou conhecimento do drama vivido na conjuntura política paraibana. Figueiredo teria dito: “Olha, Gadelha, eu entendo e sei que existe uma questão local, mas gostaria que prestasse atenção em um detalhe: as coisas pelas quais você lutou estão acontecendo: a anistia já chegou, a revogação do AI-5, resolvido; o levantamento da censura está aí, o retorno dos banidos e exilados definido e as eleições diretas aí estão. Não quero me aproveitar das circunstâncias, porém, quero pedir-lhe ajuda na edificação do processo de abertura, bem como deixar claro que, para mim, sozinho, não é fácil avançar nestes assuntos, e se você puder me ajudar…” Gadelha respondeu: “Está bem, Presidente, enfrentaremos esta luta juntos”. Deste modo, saiu candidato ao Senado pelo PDS.

Em 90, filiado ao PFL, Gadelha tentou novamente o Senado, enfrentando abertamente Antônio Mariz, que saiu vitorioso pelo PMDB. Mas em 86, intimado pelo PDS, disputou o governo do Estado, perdendo para Tarcísio Burity por quase 300 mil votos de diferença. Marcondes foi um parlamentar atuante, quer na Câmara, quer no Senado. Atualmente preside o diretório do PSC na Paraíba e recentemente assumiu a titularidade do mandato de deputado federal. Ele era suplente do deputado federal Rômulo Gouveia (PSD-Campina Grande), que faleceu subitamente e, nessa condição, alçou ao mandato, onde sustenta uma bandeira marcante da sua trajetória – a vigilância em torno da transposição de águas do rio São Francisco. O retorno à cena política pegou Marcondes de surpresa. Ele vinha preparando seu filho, Leonardo, ex-superintendente do INSS, para voltar a disputar mandato de deputado federal – e garante que a prioridade para participação no pleito deste ano é de Leonardo. “Vou concluir o mandato de Rômulo como quem cumpre uma missão”, assevera Marcondes Gadelha.

Nonato Guedes

 

 

 

 

 

 

 

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Last Update: 21 de outubro de 2018